26-maio - Nossa Senhora de Caravaggio
No princío do século XV vivia em Caravaggio (diocese de
Cremona), lugarejo a 38 km de Milão (Itália), uma jovem muito piedosa,
Giannetta Vacchi. Por ser muito devota de Nossa Senhora, jejuava na véspera
de suas festas, que ela celebrava com grande fervor; além disso, não deixava
passar um só dia sem se recomendar à Mãe de Deus, e, durante o dia, quer
estivesse trabalhando em casa, quer se
entregasse aos trabalhos do campo, suspendia o trabalho por breves momentos
para elevar sua mente à Virgem bendita. Era, em suma uma daquelas almas
virtuosas e simples que tanto agradam ao Senhor. Casada contra a sua vontade com Francisco Varoli, teve de
sofrer duríssimas provações, pois o malvado do marido não só a ofendia com os
maiores insultos, mas também chegava a bater-lhe. Contudo, ela suportava
injúrias e maus tratos com admirável resignação, recomendando-se a Nossa
Senhora com fervor sempre crescente, à medida que aumentavam os tormentos que
lhe infligia o desumano marido. Estava Giannetta para completar o 32º ano de sua
tormentosa existência, quando inesperadamente começa a paciente senhora a
desfrutar o conforto da Rainha do Céu.
No dia 26 de maio de 1432, o cruel marido, ou porque
naquele dia ainda se deixasse levar mais pela brutal paixão da ira, ou por
instigação de maus companheiros, agrediu a mulher mais brutalmente do que geralmente
o fazia, não se compadecendo dela nem mesmo depois de vê-la ferida; ao
contrário, juntando crueldade a crueldade, ordenou-lhe que fosse sozinha cortar
o feno, acrescentando à desumana ordem as mais duras ameaças. Giannetta não se revolta: pega na foice e obedece
confiando em Deus, que vê as aflições dos atribulados, e no patrocínio daquela
a quem invocamos como o poderoso auxílio dos cristãos. Chegando ao campo agreste chamado Mazzolengo, distante
cerca de uma légua de Caravaggio, na estrada que conduz a Misano, pôs-se a
pobrezinha ao trabalho, que durou várias horas, entremeado de freqüentes
invocações à Virgem Santíssima. Quando o dia já declinava, olhando Giannetta para o feno
ceifado, viu claramente que não tinha a força necessária para levá-lo para casa
em uma só caminhada, e, pela distância em que estava, não havia tempo para
fazer duas viagens. Desolada e torturada com a lembrança do cruel marido, não
sabe o que fazer, por mais que procure imaginar um meio de livrar-se daquele
apuro. Volta então os olhos lacrimosos para o céu e exclama: “Oh, Senhora
caríssima, ajudai-me: só de vós espera socorro a vossa pobre serva!…” Ia continuar a confiante súplica, quando de repente lhe
aparece uma senhora de aspecto nobre e venerando, de porte majestoso e belo e
gracioso semblante, tendo nos ombros um manto azul, e a cabeça coberta com um
véu branco. “Oh, Senhora minha santíssima”" exclama Giannetta no
auge da admiração… “Sim, eu sou a tua Senhora”, replica Maria, “mas não
temas, filha: tuas preces foram, por minha intercessão, ouvidas por meu divino
Filho, e já te estão preparados os tesouros do céu. Ajoelha-te, pois, e escuta
reverente.” “Oh, Senhora”, diz a humilde e simples Giannetta (que ou não imaginava ter diante de
si a Mãe de Deus, ou então estava obcecada pelo pensamento do demônio que a
esperava em casa), “eu não tenho tempo a perder: os meus jumentos estão
esperando este feno”.
Mas a Virgem Santíssima, tocando-lhe suavemente nos
ombros, fê-la ajoelhar-se e assim lhe falou: “Ouve atentamente, filha: o mundo,
com suas iniqüidades, havia excitado a cólera do céu. O meu divino Filho queria
punir severamente esses homens iníquos, cobertos de pecados; mas eu intercedi pelos
míseros pecadores com insistentes súplicas, e finalmente Deus se aplacou. Vai,
portanto, comunicar a todos que, por causa deste assinalado benefício de meu
divino Filho, devem jejuar numa sexta-feira a pão e água, e, em minha honra,
festejar o sábado desde a véspera; eu reclamo isto como uma prova da gratidão
dos homens pela singularíssima graça que para eles obtive. Vai, filha, e
manifesta a todos a minha vontade”.Admiração, amor, compunção enchiam a alma de Giannetta,
que, depois de refletir um pouco, exclama: “Senhora, quem acreditará em minhas
palavras? … Sou uma pobre e desconhecida criatura…” E a Virgem bendita replica: “Levanta-te, minha filha, e
não temas: refere corajosamente o que te comuniquei e ordenei: eu confirmarei
com sinais evidentes as tuas palavras; e este lugar onde agora tu me vês se
tornará célebre e famoso para toda cristandade”.
Ditas estas palavras, abençoa Giannetta com o sinal da
cruz e desaparece, deixando no solo os vestígios de seus beatíssimos pés. Imagine quem puder como ficou Giannetta diante de tal
espetáculo (visto que já compreendido então que era Nossa Senhora quem lhe
falava): extática, fora de si, levanta os olhos como que para acompanhar a
Virgem Maria; e, prostrando-se em terra, beija e torna a beijar as santas
pegadas. Depois afasta-se contra a vontade daquele santo lugar e corre, voa
para sua aldeia, e pelos caminhos por onde passa vai narrando a quem encontra
tudo o que tinha visto e ouvido. Todos creem em suas palavras, cumprindo-se
assim a profecia da Santíssima Virgem, e correm, guiados por Giannetta, ao
bem-aventurado lugar, admirando as santas pegadas impressas no solo verdejante,
bem como a fonte que ali brotara milagrosamente. Todos empenhavam-se em louvar e agradecer a bondade
divina, maravilhando-se sempre mais. Sua gratidão crescia quando viam as curas
operadas por meio da água da fonte milagrosa, ou as graças e prodígios
alcançadas de outra maneira, que se multiplicavam dia a dia. Como é natural, a
fama de tantos prodígios voou com a rapidez do raio até as cidades vizinhas, e
mesmo até as regiões mais longínquas, de modo que foi tal a afluência de
pessoas que iam a Mazzolengo, para contemplar os santos vestígios dos pés de
Maria, admirar a fonte sagrada e beber da água prodigiosa, que foi necessário
construir uma comissão que regulasse o acesso dos peregrinos. Mais tarde,
divulgada por toda a Europa a notícia do milagroso acontecimento e das
contínuas curas prodigiosas e outras graças concedidas por Maria no local da
aparição, começaram a chover as ofertas, de modo que a autoridade diocesana
constituiu uma comissão cuja incumbência era recolher donativos e aplicá-los na
construção de uma igreja no lugar em que tinha aparecido Nossa Senhora. A primeira pedra da igreja foi lançada pelo vigário de Caravaggio
em 31 de julho do mesmo ano da aparição (1432), mas só foi acabada e consagrada
dezenove anos depois. Transcorrido um século, a igreja ameaçava ruir, pelo que
foi preciso ser escorada. Depois, tornando-se pequena para o sempre crescente
número de peregrinos, foi ampliada por iniciativa de são Carlos Borromeu.
Posteriormente, ameaçando novamente ruir, foi preciso demoli-la. Foi então que o célebre arquiteto Pellegrini construiu o
majestoso santuário, que é hoje uma das mais fúlgidas glórias da fé do povo
italiano, como da arte que se inspira na religião.
Eis, pois mais um título dado à Mãe de Deus – Nossa
Senhora de Caravaggio -, por causa de sua aparição em Caravaggio (Itália) a
Giannetta Vacchi.
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