16-outubro - 29º Domingo do Tempo Comum - Lc 18,1-8
A Palavra que a liturgia nos apresenta nos convida a manter com Deus uma relação
estreita, uma comunhão íntima, um diálogo insistente: só dessa forma será
possível ao crente aceitar os projetos de Deus, compreender os seus silêncios,
respeitar os seus ritmos, acreditar no seu amor. O Evangelho sugere que Deus não está ausente
nem fica insensível diante do sofrimento do seu Povo… Os crentes devem
descobrir que Deus os ama e que tem um projeto de salvação para todos os
homens; e essa descoberta só se pode fazer através da oração, de um diálogo
contínuo e perseverante com Deus. A
primeira leitura dá a entender que Deus intervém no mundo e salva o seu Povo
servindo-Se, muitas vezes, da ação do homem; mas, para que o homem possa ganhar
as duras batalhas da existência, ele tem que contar com a ajuda e a força de
Deus… Ora, essa ajuda e essa força brotam da oração, do diálogo com Deus.
A segunda leitura, sem se referir diretamente ao tema da relação do crente com
Deus, apresenta uma outra fonte privilegiada de encontro entre Deus e o homem:
a Escritura Sagrada… Sendo a Palavra com que Deus indica aos homens o caminho
da vida plena, ela deve assumir um lugar preponderante na experiência cristã.
Reflexão:
O juiz da parábola faz justiça, não para fazer respeitar
a justiça, mas para ter a paz. É a perseverança da mulher que lhe faz obter o
que ela pede. O que conta aos olhos do Senhor é a perseverança no pedido. Deus
parece esperar a confiança daqueles que Lhe rezam. A confiança não tem limites…
Mas Jesus coloca a terrível questão: “O Filho do Homem, quando vier, encontrará
fé sobre a terra?” Não respondamos muito
depressa… A nossa oração verifica a nossa fé, mas é necessário que ela se faça
perseverança…
• Porque é que Deus permite que tantos milhões de homens
sobrevivam em condições tão degradantes? Porque é que os maus e injustos
praticam arbitrariedades sem conta sobre os mais fracos e nenhum mal lhes
acontece? Como é que Deus aceita que 2.800 milhões de pessoas (cerca de metade
da humanidade) vivam com menos de três euros por dia? Como é que Deus não
intervém quando certas doenças incuráveis ameaçam dizimar os pobres dos países
do quarto mundo, perante a indiferença da comunidade internacional? Onde está
Deus quando as ditaduras ou os imperialismos maltratam povos inteiros? Deus não
intervém porque não quer saber dos homens e é insensível em relação àquilo que
lhes acontece? É a isto que o Evangelho de hoje procura responder… Lucas está
convicto de que Deus não é indiferente aos gritos de sofrimento dos pobres e
que não desistiu de intervir no mundo, a fim de construir o novo céu e a nova terra
de justiça, de paz e de felicidade para todos… Simplesmente, Deus tem projetos
e planos que nós, na nossa ânsia e impaciência, não conseguimos perceber. Deus
tem o seu ritmo – um ritmo que passa por não forçar as coisas, por respeitar a
liberdade do homem… A nós resta-nos respeitar a lógica de Deus, confiar nele,
entregarmo-nos nas suas mãos.
• Para que Deus e os seus projetos façam sentido ou, pelo
menos, para que a aparente falta de lógica dos planos de Deus não nos lancem no
desespero e na revolta, é preciso manter com Ele uma relação de comunhão, de
intimidade, de diálogo. Através da oração, percebemos quem Deus é, percebemos o
seu amor e a sua misericórdia, descobrimos a sua bondade e a sua justiça… E,
dessa forma, constatamos que Ele não é indiferente à sorte dos pobres e que tem
um projeto de salvação para todos os homens. A oração é o caminho para
encontrarmos o amor de Deus.
• O diálogo que mantemos com Deus não pode ser um diálogo
que interrompemos quando deixamos de perceber as coisas ou quando Deus parece
ausente; mas é um diálogo que devemos manter, com perseverança e insistência.
Quem ama de verdade, não corta a relação à primeira incompreensão, ou à
primeira ausência. Pelo contrário, a espera e a ausência provam o amor e
intensificam a relação.
• A oração não é uma fórmula mágica e automática para
levar Deus a fazer as nossas “vontadinhas”… Muitas vezes, Deus terá as suas
razões para não dar muita importância àquilo que Lhe pedimos: às vezes pedimos
a Deus coisas que compete a nós
conseguir (por exemplo, passar nos exames); outras vezes, pedimos coisas que
nos parecem boas, mas que a médio prazo podem roubar-nos a felicidade; outras
vezes, ainda, pedimos coisas que são boas para nós, mas que implicam sofrimento
e injustiça para os outros… É preciso termos consciência disto; e quando parece
que Deus não nos ouve, perguntemos a nós próprios se os nossos pedidos farão
sentido, à luz da lógica de Deus.
“É preciso rezar
sempre sem desencorajar”. Jesus tomou o exemplo da viúva que pede
obstinadamente que a justiça lhe seja feita, para ilustrar o seu convite a uma
oração perseverante, também ela obstinada. Mas poderíamos esperar esta
conclusão: “Se vós insistis sem cessar junto de Deus com a vossa oração, então,
como o juiz, Ele acabará por ceder e atenderá o vosso pedido”. Mas não! Jesus
parece incoerente. Ele diz: “E Deus não havia de fazer justiça aos seus
eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo?
Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa”. É preciso rezar longamente,
com perseverança, sem desencorajar e então Deus escuta-nos depressa, sem
tardar! Tudo isso não é muito lógico! Mas que quer Jesus nos dizer? A
palavra-chave é que “Deus nos faz justiça”. É uma palavra terrivelmente ambígua.
A justiça entre os homens é indispensável. Consiste em dar a cada um o que lhe
é devido, a reconhecer os deveres e os direitos de cada um. Há leis para dizer
quais são esses direitos e deveres, há juízes para aplicar essas leis. Mas a
justiça humana é sempre muito limitada e é preciso, muitas vezes, uma longa
paciência para que ela seja, ao menos um pouco, aplicada! Com Deus, as coisas
não são assim. Deus não é um juiz mais perfeito que os juízes terrestres, a
justiça de Deus não é uma cópia eterna
da justiça humana. Jesus veio nos revelar que Deus é Amor. Desde então, Deus é
justo quando a sua ação é “ajustada” ao seu ser, é justo quando ama. O mais
alto degrau da justiça é perdoar e fazer misericórdia, porque aí se manifesta
em plena luz a verdadeira natureza de Deus, o seu amor totalmente gratuito. É
precisamente isso que pedem os “eleitos”, aqueles que compreenderam qual é a
justiça de Deus: Ó Deus, dá-me o teu amor, o teu Espírito Santo, para que Ele
ajuste o meu coração e toda a minha vida ao teu amor. Perdoa os meus pecados”.
Esta oração, Deus atende-a sem tardar, como fez ao bom ladrão: “Hoje, estarás
comigo no Paraíso”. Esta oração, posso e devo fazê-la todos os dias, sem me
cansar, sem me desencorajar, porque é todos os dias que preciso de ser ajustado
ao amor de Deus.
Meditação para a
semana…
Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo…
Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas
frases da Palavra de Deus: “o Senhor é quem te guarda… o Senhor vela pela tua
vida…”; “proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito,
argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina”; “…necessidade de
orar sempre sem desanimar…”.
Procurar transformá-las em atitudes e em gestos de
verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando nos
caminhos percorridos da vida…
fonte:
www.dehonianos.org
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