09-outubro-2016 - 28º Domingo do Tempo Comum - Lc 17,11-19
A liturgia nos mostra, com
exemplos concretos, como Deus tem um projeto de salvação para oferecer a todos
os homens, sem exceção; reconhecer o dom de Deus, acolhê-lo com amor e
gratidão, é a condição para vencer a alienação, o sofrimento, o afastamento de
Deus e dos irmãos e chegar à vida plena.
A primeira leitura nos apresenta a história de um leproso (o sírio
Naamã). O episódio revela que só Jahwéh oferece ao homem a vida e a salvação,
sem limites nem exceções; ao homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-lo como o único salvador e manifestar-Lhe
gratidão. O Evangelho nos apresenta um grupo de leprosos que se encontram com
Jesus e que através de Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles
representam toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre
quem Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui se
chama a atenção para a resposta do homem ao dom de Deus: todos os que
experimentam a salvação que Deus oferece devem reconhecer o dom, acolhê-lo e
manifestar a Deus a sua gratidão. A segunda leitura define a existência cristã
como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo:
identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos irmãos e chega à vida
nova da ressurreição.
Reflexão:
• A “lepra” que rouba a
vida a esses “dez” homens que a leitura de hoje nos apresenta representa o
infortúnio que atinge a totalidade da humanidade e que gera exclusão,
marginalidade, opressão, injustiça. É a condição de uma humanidade marcada pelo
sofrimento, pela miséria, pelo afastamento de Deus e dos irmãos, que aqui nos é
mostrada… Lucas garante, no entanto, que Deus tem um projeto de salvação para
todos os homens, sem exceção; e que é em Jesus e através de Jesus que esse
projeto atinge todos os que se sentem “leprosos” e os faz encontrar a vida
plena, a reintegração total na família de Deus e na comunidade humana.
• É preciso ter uma
resposta de gratidão e de adesão à proposta de salvação que Deus faz. Atenção:
muitas vezes são aqueles que parecem mais fora da órbita de Deus que primeiro
reconhecem o seu dom, que o acolhem e que aderem à proposta de vida nova que
lhes é feita. Às vezes, aqueles que lidam diariamente com o mundo do sagrado
estão cheios de auto-suficiência e de orgulho para acolherem com humildade e
simplicidade os dons de Deus, para manifestarem gratidão e para aceitarem ser
transformados pela graça… Convém pensar na atitude que, dia a dia, eu assumo
diante de Deus: se é uma atitude de auto-suficiência, ou se é uma atitude de
adesão humilde e de gratidão.
• Como lidamos com aqueles
que a sociedade de hoje considera “leprosos” e que, muitas vezes, se encontram
numa situação de exclusão e de marginalidade (os sem abrigo, os drogados, os
deficientes, os doentes terminais, os idosos abandonados em lares, os
analfabetos, os que vivem abaixo do limiar da pobreza, os que não têm celular
nem internet, os que não vestem de acordo com a moda, os que não pactuam com
certos valores politicamente corretos, os que não consomem produtos “light” e
não têm uma silhueta moderna, os que não frequentam as festas sociais nem
aparecem nos programas televisivos de sucesso…): com desprezo, com indiferença,
com medo de ficar contaminados ou como testemunhas da bondade e do amor de
Deus?
• Curiosamente, os dez
“leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra” desaparece
“no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a ação
libertadora de Jesus não é uma ação mágica, caída repentinamente do céu, mas um
processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a caminhada cristã),
no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à
adesão plena às suas propostas e à efetiva transformação do coração. Assim, a
nossa “cura” não é um momento mágico que acontece quando somos batizados, ou
fazemos a primeira comunhão ou nos crismamos; mas é uma caminhada progressiva,
durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida nova.
É preciso ser um
samaritano, um dos habitantes da Samaria com os quais os Judeus não querem ter
nada em comum, a vir até Jesus após a sua cura, para ter um ato de
reconhecimento. Sim, ele reconhece que Deus o curou pois ele glorifica-O,
enquanto Jesus reconhecerá que a sua fé o salvou. Ele é salvo precisamente
porque reconhece Aquele que o salva. Tal é a diferença em relação aos outros
nove leprosos curados que não reconhecem Aquele que os purificou. Enfim, o
leproso samaritano faz ato de reconhecimento vindo agradecer: lança o rosto por
terra aos pés de Jesus dando-Lhe graças. O homem pode levantar-se porque está
totalmente salvo: não apenas o seu corpo é purificado mas, ao vir glorificar
Deus e dar-Lhe graças, pode aproximar-se de Jesus, o verdadeiro Salvador, que
salva o homem e dele espera a caminhada da fé.
Todos os pais têm a
preocupação em ensinar aos seus filhos “se faz favor” e “obrigado”. Isso faz
parte da boa educação. Mas estas duas palavras estão carregadas de um sentido
que a criança deve descobrir progressivamente: ninguém consegue sozinho, todos
temos necessidade dos outros. Reconhecer que, sozinho, não posso fazer tudo;
tenho necessidade de receber, de pedir. E dizendo obrigado aos outros,
reconheço que me fizeram bem. Enfim, estas palavras, que parecem tão banais,
exprimem a dimensão social do ser humano. A comunidade humana e a comunidade
cristã constroem-se através destas relações, destes contactos quotidianos nos
quais cada um se reconhece, em todos os sentidos desta palavra. Hoje, Jesus nos
convida a recordar tudo isso na nossa relação com Deus. Os dez leprosos vieram
até Ele porque reconheciam n’Ele um mestre, um enviado de Deus. Ousam pedir o
que ninguém podia dar naquela época: a cura da lepra. Pedem um favor que
ultrapassa as forças humanas. É a Deus que se dirigem através de Jesus. Pedem a
Jesus e Ele cura-os. Mas um só vem dizer “obrigado”. Um estrangeiro, um
samaritano. Talvez os outros pensassem que tinham o direito de serem curados
por serem judeus… O estrangeiro, esse, reconhece que a sua cura é dom gratuito
da bondade de Deus. Volta junto de Jesus para “reconhecer” este dom. Entra numa
relação plena com Deus. Veio com a sua pobreza, para pedir; regressa, com a sua
gratidão, para reconhecer que Jesus respondeu ao seu pedido. O ato central, fonte
e cume da vida cristã, a Eucaristia, significa “ação de graças”. Eis o pedido
supremo que podemos dirigir a Deus: que nos dê a sua presença em Jesus
ressuscitado e o nosso “obrigado”, o mais perfeito possível que possamos dizer
a Deus. Aí, estamos bem no coração da nossa fé e do nosso amor.
Meditação para a semana. . .
Levar a Palavra de Deus
como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo dos dias da
semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de
Deus: “Cantai ao Senhor um cântico novo”…; “Se morremos com Cristo, também com Ele
viveremos”…; “Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou”…
Procurar
transformá-las em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os
próximos que formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…
fonte:
www.dehonianos.org
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